terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

"NE SUTOR ULTRA CREPIDAM JUDICARET"

Conta a História que Apeles, célebre pintor grego da antiguidade, tinha o hábito de expor os seus quadros ao público e se esconder para escutar os comentários sobre o seu trabalho. Um dia, expôs um quadro com a figura de uma mulher. Passado um tempo, a costureira da aldeia vendo o quadro parou, olhou e comentou:

- Que maravilha de retrato, que mãos maravilhosas, que coisa mais perfeita. Só um pequeno retoque a fazer na roupa, o botão de cima esta muito perto do queixo, com dois botões seria muito melhor. (…)

Apeles, escondido, logo anotou o que a costureira tinha comentado.

Em seguida veio o cabeleireiro. Vendo o quadro, teceu elogios ao conjunto da obra, mas observou:

- O alfinete do lado esquerdo do penteado deveria estar um pouco mais para trás, isso deixaria o retrato perfeito.

Apeles, sempre atento, ia tomando nota de tudo o que escutava.

Por último chegou o sapateiro que ficou boquiaberto com a beleza da pintura, mas comentou:

- Eu colocaria fivela nos sapatos e então poder-se-ia dizer que o quadro está perfeito.

Tudo anotado, Apeles saiu do seu esconderijo, embrulhou o quadro e foi para a sua casa retocar a pintura, tendo o cuidado de seguir os conselhos dos três profissionais observadores. No outro dia voltou a expor o quadro.

A modista e o cabeleireiro, vendo juntos a pintura retocada, exclamaram:

- Nada mais temos a dizer. Impecável!

O sapateiro chegou, olhou atentamente o quadro e comentou:

- Os sapatos ficaram ótimos com a mudança, mas o vestido…

Ouvindo isso, Apeles saiu enfurecido do seu esconderijo e, interrompendo o sapateiro, gritou – Não passes alem dos sapatos.




Esta frase atribuída a Apeles se transformou na máxima latina “Ne sutor ultra crepidam judicaret” (Não deve o sapateiro julgar além da sandália), que nos alerta sobre a necessidade de termos consciência dos nossos próprios limites. Resumindo: ninguém deve se enxerir sobre algo que não entende ou lhe diz respeito.


Mesmo aprovando a dura que Apeles deu no sapateiro, é bom termos cuidado ao manipular esse pensamento criado a partir da frase do pintor grego, pois corremos o risco de inibir a voz dos não iniciados, o que é pior do que conviver com ela. Afinal, não somos obrigados a ler o que eles escrevem.


Vamos pensar um pouco...


O que tem de gente querendo dá uma de sapateiro grego, não tá no gibi. Embora eu não seja Apeles, nem de longe, Graças a Deus, eu vejo que muitas pessoas em nossa região se metem a falar e dar "pitaco" sob uma visão dicotomizada, como no poema de Drummond que trata da Verdade.


Aceito ser chamado de simplista. Mas sou um simplista que vivo o cotidiano de uma escola municipal. Sou um simplista que tem conhecimento de causa naquilo que defendo em textos, palestras e reuniões. Sou um simplista que, apesar dos trinta e poucos anos, já possuo 14 anos de profissão, tendo vivenciado diversos tipos de cargos no Educação, sem jamais ser cooptado. Sou simplista de vergonha na cara, de crista levantada, de força no olhar, nas palavras e nas mãos... Sou Simplista, mas não sou Sapateiro.


Aprendi desde cedo que o mais importante é SER e não TER. Aprendi que não importa que existam crenças e fé cega. O que importa é você ser um ser humano de Convicção Própria. Desde cedo aprendi que Alma, Ideologia e Caráter não se negociam em detrimento a um sonho qualquer. E nada disso eu aprendi lendo enciclopédias. Mas, porém, contudo, todavia, no entando... tive bons professores de Português para não cometer tantos erros de concordância, muito frequentemente. Além disso, meus professores, até na Universidade no curso de Geografia, me ensinaram que nada ensinamos aos outros, apenas damos orientações, tal como conselhos que damos às pessoas mais caras, porque queremos o seu bem. E nunca fui sapateiro para entender além disso...


Aprendi com Jesus - o Rabí - que o Homem não é mal, e sim, ignorante. Todos os homens estão mergulhados nessa grande esfera que nos permite agirmos com ignorância (falta de conhecimento) para que a aprendizagem ocorra. Não somos bons ou maus nem temos essa gênese. Somos filhos da luz. Mas, com o livre arbítrio de vivermos no escuro... Construir e destruir é ato que cada um responde por si e nem Deus se colocou contra, nem a favor. Mas, pelo conhecimento que temos, Ele, através da Natureza, exigirá reparos profundos, ou seja, se você tirou uma pedra do lugar, irá colocá-la de volta em momento propício. E eu nunca fui sapateiro para buscar além disso...


Aprendi dentro do Movimento Espírita, ao qual me entreguei desde os primeiros anos de minha adolescência (passando por todas as equipes de trabalho de uma casa Espírita), que existem verdades fora do Cristianismo. Não me refiro apenas à Religião Católica (a quem agradeço os primeiros anos de formação) e nem às correntes protestantes, mas, ao movimento instalado desde o desencarne do corpo de Cristo. O Budismo me fala de coisas que nenhuma outra religião fala. O movimento Hare Krishna fala do sândalo como os ensinos de Jesus em seu tempo. Os muçulmanos nos demonstram uma disciplina singular que o mundo cristão não tem... Eu não sou sapateiro pra achar que só está no caminho da luz, quem segue o Cristianismo. Meu instinto de sapateiro nunca apareceu por estas bandas.


Foi com a vida Educacional que eu descobri que não vim para este mundo senão para está dentro do processo Educacional. Costumo dizer que eu não escolhi minha profissão. Ela me escolheu. E se ela me escolheu, eu preciso aceitar com resignação os propósitos acima dos meus. E assim aprendi a Amar o que eu faço. Por isso, para mim, não existe "segunda-feira preguiçosa", tampouco "sexta-feira cansativa". Ao longo destes 14 anos (repito) de profissão eu busco evoluir, contribuir, estudar, concretizar, abraçar, defender, alertar, aprender sempre, dentro da minha vida profissional como Educador. Isso mesmo, quem trabalha comigo sabe que eu não sou outra coisa que não seja trabalhador da Educação e nunca, um educador completo que não precisa aprender mais nada; mas, jamais, aproveitador, gigolor, aliciador das causas pedagógicas, nem SAPATEIRO dentro da vida escolar. Tudo o que escrevo e falo aqui e em outro lugar se baseia na vivência, na experiência. Teoria eu tive na faculdade. E muito boa por sinal, ao contrário de centenas de colegas...



Bom lembrar nessa hora de Albert Einstein:



"A única coisa que interfere com meu aprendizado é a minha educação."



"Educação é o que resta depois de ter esquecido tudo que se aprendeu na escola."



"A teoria sempre acaba, mais cedo ou mais tarde, assassinada pela experiência."



"A imaginação é mais importante que o conhecimento."

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