sábado, 18 de julho de 2009

PERGUNTA DE ALUNO: PLUTÃO NÃO MAIS PLANETA?




Outro dia na sala de aula um aluno me perguntou porque os cientistas resolveram tirar Plutão da lista dos planetas que formam o nosso sistema solar. Mesmo sem ter em mãos o novo modelo, tentei explicar os motivos. Aproveito a dúvida do meu aluno e publico a matéria retirada do site do Observatório Nacional, pelo qual tenho feito curso a distância.









"Os nomes que usamos na ciência têm que se adaptar às novas realidades que descobrimos. Uma das maravilhas da ciência é que ela não sepretende definitiva. Na definição de Popper, o que qualifica a ciência é ofato de que todas as suas leis estão sujeitas a ser contrariadas porresultados novos. Sem exceção!"


Trecho texto: “A nova definição de planeta”, por Sylvio Ferraz Mello(IAG/USP)






Depois de décadas de controvérsias, a comunidade astronômica mundial finalmente deu um primeiro passo na direção de elaborar uma definição para os corpos celestes classificados como “Planetas” e, deste modo, chegar a um consenso em relação à natureza de Plutão.O fato é que a inclusão de Plutão entre os planetas tem gerado incômodos na comunidade há muito tempo.




Em 1930, quando foi descoberto pelo astronômo americano Clyde Tombaugh, estimou-se para Plutão um tamanho muito maior – comparável ao da Terra. Plutão é de fato menor do que a Lua e a sua massa é de apenas 0.22% da massa da Terra. Além disso, apresenta uma órbita bastante excêntrica e inclinada 17º em relação ao plano da órbita da Terra, muito maior quando comparada aos outros planetas.




O desconforto chegou ao limite com a descoberta do objeto 2003 UB313. Mesmo sendo maior do que Plutão, com o nosso conhecimento atual ele seria naturalmente classificado de objeto trans-neptuniano, ou seja, faria parte da classe de corpos menores que orbitam o Sol em órbitas além de Netuno.




No entanto, para isso seria necessário restabelecer a verdade em relação a Plutão ou artificialmente classificar 2003 UB313 como planeta, abrindo caminho para que outros objetos também fossem “promovidos”. Neste ponto, os únicos argumentos para manter Plutão classificado como planeta tinham origem histórica e política.




Assim, durante a assembléia geral da União Astronômica Internacional (IAU/UAI) realizada em Praga em agosto deste ano, a questão foi amplamente discutida e iniciou-se a formulação de um conceito para definir quantos são os planetas do sistema solar. As resoluções aprovadas durante a reunião estabelecem que um planeta é um corpo celeste com as seguintes caracterísiticas:
– Orbita em torno do Sol;– Possui uma forma aproximadamente esférica;– É grande o suficiente para ser dominante em sua órbita, tendo eliminado objetos menores de sua vizinhança.




A IAU também estabeleceu uma classe provisoriamente chamada de “planetas-anões” – um grupo especial de objetos trans-neptunianos. Estes corpos também seguem os dois primeiros itens da classificação de planetas e, além disso, não devem ser satélites de outros objetos e não podem ser grandes o suficiente para terem “limpado” a sua vizinhança, ou seja, não são dominantes em suas órbitas.




Todos os outros corpos que não se classificam como planetas ou planetas-anões são chamados de “corpos menores do sistema solar”.Deste modo, Plutão foi reclassificado como planeta-anão. Alguns dias depois, 2003 UB313 recebeu a sua nomeclatura definitiva: Éris, a deusa da discórdia.



As definições que foram traçadas pela IAU referem-se apenas ao nosso sistema planetário. Para a classificação dos objetos que têm sido encontrados orbitando outras estrelas – os chamados planetas extra-solares ou exoplanetas – é necessário um conceito mais geral que leve em conta processo de formação desses corpos.



Para a população, o mais interessante dessa discussão é poder perceber o quanto a ciência é dinâmica e defronta-se a todo momento com novas questões e com a quebra de paradigmas. Mais do que ensinar aos jovens que Plutão não é um planeta, é preciso mostrar que os conceitos devem ser flexíveis a fim de acatar novos resultados, porém rígidos o suficiente para evitar distorções promovidas por posições políticas ou culturais.








A ciência imita a arte...






Mais perto da verdade sobre o número de Planetas orbitando o Sol estava Gustav Holst (1874 – 1934), compositor inglês que criou a suíte “Os Planetas”, apresentada em sua forma completa pela primeira vez em 1920.




Após a descoberta de Plutão, ele teria sido indagado se não iria completar a obra, compondo um novo movimento dedicado àquele que acreditavam ser um novo planeta. Holst recusou-se a tal tarefa, por um lado por conta do seu desagravo com o sucesso popular da obra – que para o autor distorcia o seu significado – e por outro pela declaração de que o final do último movimento da peça (Netuno, o místico) representava tudo aquilo que ainda resta ao homem descobrir.




Bastante pertinente...




Para saber mais:



“A nova definição de planeta”, por Sylvio Ferraz Mello (IAG/USP)http://www.astro.iag.usp.br/~dinamica/iau-planeta.html
“The nine Planets”http://www.nineplanets.org/pluto.html
Figuras:Astronomy Picture of Dayhttp://antwrp.gsfc.nasa.gov/apod/ap060828.htmlhttp://antwrp.gsfc.nasa.gov/apod/ap060624.html
* Tânia Pereira Dominici é astrofísica e Maria Carmo Corrêa é jornalista, ambas trabalham do IAG/USP.

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